Pela reputação
Quantas vezes não é a eventualidade da multa avultada que nos leva a assumir outros comportamentos. Se reflectirmos bem, o que será mais penoso ao insistirmos nesses comportamentos? Será a multa ou será a perda da reputação? A multa será uma consequência tangível, já a reputação não será tangível no imediato. Nem no longo prazo será fácil de quantificar as consequências de perda da reputação.
Quando em 2015 a GALP foi multada em 9,3 milhões de euros pela Autoridade da Concorrência por práticas anti-concorrenciais no mercado do gás engarrafado, o seu presidente decidiu contestar, não tanto pelo montante avultado da multa mas sobretudo em nome da reputação da empresa.
As empresas têm uma ética que muitas vezes até está publicada. A ética será um princípio e deverá ser intemporal. Já a moral será a conduta, serão os hábitos, serão as práticas vigentes. A moral deverá reflectir a ética, contudo nem sempre as empresas conseguem este alinhamento.
Tendo como princípios base a Licitude, a Lealdade e a Transparência, o novo Regulamento Geral para a Protecção dos Dados levanta um grande desafio para as organizações que não tenham de certa forma prevenido o tal alinhamento entre a ética e a moral. Por exemplo, não bastará obter o consentimento dos titulares de dados para alguns tratamentos. Será preciso que toda a organização compreenda que para além do consentimento há que respeitar com lealdade e transparência que não haverão outros tratamentos de dados para além daqueles que foram consentidos.
Prevenir será definir e publicar a ética da empresa, praticá-la sempre, será consciencializar todos os stakeholders (internos ou externos) da empresa, será redigir códigos de conduta e rever contratos de trabalho e de parcerias, será pedir que cada um seja um vigilante dessas boas práticas e que denuncie logo que se detecte uma prática desviante, isto em nome da reputação da empresa e de todos os que com ela estejam relacionados.
A multa não deverá ser seguramente o elemento motivador para a adopção destas novas práticas. A reputação, sim. A reputação é o activo mais importante de uma empresa.
